Marco Mayer – bass, vocals, guitars, keyboards
Nichollas Jaques – backing vocals
Hector Ruslan – guitar, vocals
Rai Accioly – guitar, vocals |
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Featuring with:
Torstein Lofthus – drums, cowbell
Uaná Barreto – Minimoog Voyager (2,4)
Benjamin Mekki Widerøe – tenor saxophone (6,7)
Luis Souto Maior – Prophet-6 (7)
Toby Driver – remix (bonus track)
Recorded by Ruy José at Estúdio Mutuca, João Pessoa
Drums recorded by Jørgen Smådal Larsen at Studio Paradiso, Oslo
Tenor saxophone recorded by Fredrik Mekki Widerøe in Bergen
Overdubs by Marco and Hector at Singaro/Qripta, João Pessoa between 2019 and 2021
Mixed by Jørgen Smådal Larsen at Studio Paradiso, Oslo
Mastered by James Plotkin
Produced by Marco Mayer
Album art by Ars Moriendee
Logo by Salomão Montenegro
Photography by Malu de Castro |
O sangue à fé ligeiro se assemelha
Os louros que te adornam
O couro temperado
O som da agonia
A água branca fria
Os estalos da língua
Um lado bem passado
Um futuro de cinza
A água branca fria
3. São Francisco
Munido de carrancas
Amainando os espíritos
Afastando os demônios do grande chico
A correnteza do rio
O barco vai afundar
A água que dá a vida traz a morte
Em meio a um motim
Um barco dividido
A sorte ruim que saiu da carranca
São Francisco
Na terra dos tapuias
Criados por opará
Vivendo dessas águas
E dessas terras
Relíquia dos sertões
Jogada aos braços de ci
Homens privam seus sonhos
Enfrentando a sua fúria
Carranca mortal veio para destruir
Causando enchentes e terremotos
Afundando barcos e construções
Levando tudo às profundezas
4. Bacia das Almas
Eu confiei na palavra com a gula
Do jovem que nunca viu chuva nem carne
O osso que eu entrego pra enterrar e exumar
Desterra pra cozinhar
Eu mergulhei na bacia das almas
Dissolve os nervos da face desmascara
O erro que feito medo encravou meu coração
Correção destas apostas tombadas há muito mortas
5. Terra Arrasada
Verme homem terra chão
Rega o chão salga a terra
Sangue escuro de quem era
Resistir levantar demarcar crucificar
Ninguém assistiu ao enterro tão inevitável
Sempre calejada a mão que afaga apedrejou
É melhor morrer resistindo é melhor lutar
Se morrer de fome eu rego a terra com meu sangue
A lama espera o teu corpo terra arrasada
Véspera do еscarro a mão que afaga apedrejou
6. Lobisomem
Do sétimo filho vai nascer um lobo
Que se perde e pede socorro
Nada pode lhe parar, nem a prata, nem rezar
O demônio vai partir, vai uivar e vai rugir
Corpo enegrecido olhos feito a lua
Mente podre obscura vazia e crua
Quando minha mão chegar na garganta da fera
Vou provar ao povo meu ou pro inferno vou com seu terror
Besta-fera demônio assombração lobisomem
Quando eu morrer, não soltem meu cavalo
Nas pedras do meu pasto incendiado
Fustiguem-lhe sеu dorso alanceado
Com a espora d’ouro, até matá-lo
Um dos meus filhos dеve cavalgá-lo
Numa sela de couro esverdeado
Que arraste pelo chão pedroso e pardo
Chapas de cobre, sinos e badalos
Assim, com o raio e o cobre percutido
Tropel de cascos, sangue do castanho
Talvez se finja o som d’ouro fundido
Que’em vão, sangue insensato e vagabundo
Tentei forjar, no meu cantar estranho
Á tez da minha fera e ao sol do mundo
Mas eu enfrentarei o sol divino
O olhar sagrado em que a pantera arde
Saberei porque a teia do destino
Não houve quem cortasse ou desatasse
Não serei orgulhoso nem covarde
Que o sangue se rebela ao toque e ao sino
Verei feita em topázio a luz da tarde
Pedra do sono e cetro do assassino
Ela virá, mulher, aflando as asas
Com os dentes de cristal, feitos de brasas
E há de sagrar-me a vista o gavião
Mas sei, também, que só assim verei
A coroa da chama e deus, meu rei
Assentado em seu trono do sertão
7. Holoceno
Cai o véu um tecido de pedra
Vem o céu fechar-se na terra
Um a um o abismo arrebata
Acalanto elegia de graça
E o homem essa luz do mundo
Que habita a cidade no monte
Raspa o tacho repete devora
Alimenta a penumbra no fundo